“Nem só de finalizações viverá o centroavante, mas de cada imposição física frente à defesa adversária”. Assim parece estar escrito no “mandamento” seguido à risca pelo oportunista atacante Alexandre Zurawski – ou simplesmente “Alemão” –, lido e relido, talvez, repetidas vezes na concentração colorada antes de invadir a pequena área como um raio e antecipar David Bráz. A vitória diante do Fluminense, no Maracanã, sinaliza, pelo visto, a disputa do catarinense camisa 35 pela titularidade do ataque colorado. Lê-se oportunista porque basta ao leitor atento que cruze os dados de Alemão para que chegue a esta conclusão; minutos em campo versus bola na rede. 

Não parece ser o refino com a bola a principal característica do jogador. Mas como diria um treinador português – moda em solo brasileiro nos últimos tempos –, para os “adeptos", iniciar uma trajetória num gigante sulamericano marcando gols, mal não deve fazer. Nesse contexto, antes marcar gols e garantir pontos do que aquela velha conversa de minutagem, adaptação e espera pelo “bom momento" do jogador. Essa atmosfera favorável diminui a tensão para aprimorar fundamentos e faz com que a cabeça funcione melhor nos treinamentos. Não estou dizendo nada fora do comum aqui.

 É sempre bom, óbvio, dar tranquilidade aos atletas, e isso, creio, Mano Menezes fará com a sagacidade que sua experiência recomenda. Aliás, dito isso fora de contexto dá entender que um mentor intelectual seria a solução para qualquer jogador “quebrador de bola". Não é esse o ponto. A questão é que vários jogadores estão se incorporando ao grupo de trabalho, inclusive o próprio treinador. Repetição de movimentos, variações de jogadas, treinamento de bola parada, entre outros, ainda são elementos que dão resultado e melhoram performance de qualquer equipe. 

Voltando a Alemão, o rapaz tem 24 anos não encontra um grupo vencedor. Há uma mescla de jogadores com rodagem na Europa com sulamericanos medianos e outros que buscam afirmação. Vai ter dificuldades que muitos tiveram por aqui: pouca paciência da torcida – saturada de fracassos e fiascos –, e pouco tempo para errar. Aliás, tempo é o que menos se terá a partir de agora; perde-se uma rodada, a próxima vem em três dias. Caberá ao treinador recém-chegado diminuir os efeitos dessas dificuldades e maximizar tudo que puder. 

Torço muito para que o Alemão não aumente a lista de atacantes oriundos do interior que não deram certo no Beira-Rio. A exigência técnica para vestir a camisa do Internacional certamente não deve ser diminuída, verdade. Mas o gringo de sorriso ingênuo merece um voto de confiança, mesmo que venha na lembrança o ano horroroso que vivemos até aqui; duas vitórias em sequência não devem esconder a pouca produtividade ofensiva da equipe na temporada.

O sábado apresentou solidez defensiva na soberba atuação de Rodrigo Moledo, mas teve a dificuldade na transição para o ataque porque mesmo com boa atuação e passe pra gol, De Pena parece, em certa medida, um tanto confuso na ocupação do espaço quando aproxima Maurício para trabalhar a bola. Teve a compreensiva instabilidade de Renê – outro que fez só dois jogos e carece de um melhor entrosamento com os companheiros. Enfim, são questões complexas para o treinador resolver em sua retomada no clube. Como complexo foi o Alemão no Maracanã. Ah, foi! Ou vai me dizer que rasgar o vento com as travas da chuteira e desviar aquela bola pra dentro do gol do Fábio é barbada? Ele não é quebrador de bola, não. Não vai virar estátua na praça principal de Campo-Erê, mas pode ajudar bastante. Já é um bom começo.


Rodrigo Rocha


Imagem: Portal Lance

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