Uma das coisas mais valiosas que podemos ter na vida é a capacidade de autoexame, de refletirmos sobre nossas decisões e como elas nos afetam. Sempre começamos por onde falhamos ou deixamos a desejar. Em seguida, é chegada a hora de identificarmos o que ficou de bom e que precisa ser mantido e aprimorado. Nada demais, você dirá. Só que pessoas e organizações muitas vezes vivem uma vida inteira superadas pela urgência do cotidiano e não reconhecem sequer o que significa parar e pensar. Saber onde nos encontramos na corrente do tempo e em que perspectiva devemos projetar metas pode determinar a diferença entre protagonismo e coadjuvância. 

No futebol, isso soa um pouco pedante ou sofisticado. Só impressão. Planejar pode ser bem simples. Citarei três exemplos nacionais: Atlético-MG, Athletico e Grêmio. O primeiro é campeão brasileiro depois de 5 décadas na fila e virtual bicampeão da Copa do Brasil. Aliás, campeão automático da Supercopa do Brasil de 2022 sem entrar em campo. Rompeu com Sampaoli – criticado pela então instabilidade defensiva do time, que tinha sempre o placar recheado de números exóticos –, manteve a base do ano passado, abriu os cofres pra trazer solução (Nacho, Hulk e Diego Costa) e adivinhe: as taças começaram a aparecer. 

O outro Atlético, com “h", novo escudo e arena coberta, entendeu seu lugar no mundo: ainda não pode disputar de igual com grifes e camisas mais pesadas do futebol brasileiro, mas, isso não o impede de ser competitivo. Em quatro temporadas, faturou sua terceira copa. Dificilmente veremos o Furacão em maus lençóis nos próximos anos – fará seu campeonato de segurança, juntando os 45 pontos mágicos para jogar às “verda” (lembra dessa?) os torneios de mata-mata.

O último exemplo é o Grêmio. Enquanto viveu do “Fantástico mundo de Renato", na sua bolha, conquistou taças e a antipatia do futebol brasileiro – muito bem refletida pelas manifestações recentes de clubes brasileiros diante de seu quase inacreditável rebaixamento superavitário.

 Podemos dizer sem medo que uma temporada com tantas lições assim não se repetirá tão cedo. Fosse uma pessoa, com CPF e CNH, o Internacional deveria se recolher, ir para uma varanda, colocar uma música de fundo e pensar. Pensar mesmo. Ficar olhando para uma parede branca por horas a fio. A soberba do Flamengo, de estar acima do bem e do mal, me serve? Vale ter um mestre na tesouraria e um showman no futebol, caso do Grêmio? Somente parcerias milionárias são garantias de título? Só dinheiro tem a ver com o sucesso do Galo? Usar a base no estadual é a melhor maneira de preservar atletas competitivos até o fim da temporada, caso do Athletico? As lições estão aí. Basta olhar com atenção para o retrovisor e tirar as melhores lições para não repetir em 22 a mediocridade de 21.


Rodrigo Rocha


Imagem: Créditos Ederson Nunes/CMPA

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