Eu gosto de listas. Quem são os melhores ou piores na arte, na literatura, no esporte, na ciência. Tenho algumas guardadas na memória. Na comédia, por exemplo, Jim Carrey figura entre os melhores de todos os tempos – dos que falam inglês, claro. Por aqui, ninguém superou sir Francisco Anysio de Oliveira Paula Filho, ou simplesmente Chico Anysio – homem de dezenas de personagens e tipos brasileiros. Opinião pessoal, registre-se.

Mas falando de Jim, se você não aprecia o humor pastelão de alguns icônicos personagens ou não se impressiona pelas absurdas imitações que fizera no início da carreira, sugiro que assista o documentário Jim & And. O ator canadense não figura na minha lista dos maiores atores, mas de comediante mesmo. O documentário usa como pano de fundo a ocasião em que Jim interpretou um controverso companheiro de profissão chamado Andy Kaufman, pouco conhecido no Brasil. Vale muito a pena assistir. 

Em 2014, Jim Carrey foi paraninfo de uma turma de formandos em Iowa, nos EUA. Cheguei a utilizar seu discurso de formatura como instrumento pedagógico quando terminava minha graduação. Tratava-se de um curso preparatório para um certo grupo de estudantes que fariam o ENEM naquele ano. E as partes mais destacadas daquela inspiradora palestra autobiográfica ainda ecoam na minha mente. Em dado momento, o homem pergunta aos formandos: “como você servirá o mundo? O que ele precisa que seu talento poderá prover"? Adiante, faz duas inferências muito apropriadas para aquela jovem plateia: “o efeito que você tem sobre os outros é a moeda mais valiosa que existe". E completa com um importante alerta: “sua necessidade de aceitação pode torná-lo invisível”.

É bom que se diga que não tenho em Jim Carrey um mentor intelectual. Aliás, não tenho nenhum. Mas guardo com carinho estas sinceras palavras porque através delas pude derrubar um punhado de adversários internos – entre eles o de achar que não seria capaz de realizar algo atingível. Parece residir em nós uma incrível inclinação para a autossabotagem. E que bom que de certo modo, com muitas limitações e desejo de progresso, seguimos nosso árduo caminho apesar disso.

No sábado passado (13), iniciei ao lado de Dagoberto Machado a jornada da partida entre Internacional e Athetico. Mesmo diante de uma série de dificuldades e imprevistos, cumprimos aquilo que nos propomos a fazer. Questões técnicas tiraram de nós o primor e a excelência da cobertura – da qualidade do áudio especificamente. Mas como nos ensinam os “professores" boleiros, nós ficamos felizes por “deixarmos tudo dentro de campo”. Certamente meu parceiro de jornada pensa parecido comigo.

E aí que vem as sentenças finais do texto de Jim para contemplarmos e refletirmos. Elas me confortam na medida em que iniciamos uma nova etapa: “você pode falhar fazendo o que não gosta, então por que você não se dá a chance de fazer o que ama? [...] Não deixe que nada obstrua a luz que você irradia; arrisque ser visto em toda sua glória.” Sim, o prazer pelo esporte, o carinho e respeito pelo torcedor, a consciência de que somos também torcedores e que a partir dessa identidade tentamos humildemente comunicar são a chave para a continuidade do processo e dos aprimoramentos necessários.

Seguir fazendo o que se gosta pode significar o ato de derivar prazer na locução, no comentário, no texto construído, no informe preciso que vem do plantão, na seleção musical criteriosa e cuidadosa, na entrevista com perguntas bem elaboradas, não importa. A rádio web INTER DE TODOS se apresenta no campinho despretensiosa e com pretensão. E mesmo que possa parecer um simples fluxo contínuo de inquietações existenciais baseadas em experiências traumáticas de um astro do cinema cuja sanidade mental é constantemente questionada, prefiro ficar com suas palavras finais que nos ensina: “jamais iremos permitir que o medo deixe de lado nosso coração brincalhão”. Esse é o espírito, essa é nossa fortuna, essa é nossa lição.

Rodrigo Rocha

Imagem: CosmoNerd


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